domingo, 9 de janeiro de 2011

"VAIDADE"

O império daVaidade





Em tempos de ditadura da beleza , o corpo é massacrado pela indústria e pelo comércio, que vivem da nossa insegurança, impotência e angustia.

Você sabe por que a televisão, a publicidade , o cinema e os jornais defendem os músculos torneados, as vitaminas milagrosas,as modelos longilíneas e as academias de ginástica? Por que tudo isso dá dinheiro . Sabe porque ninguém fala do afeto e do respeito entre duas pessoas comuns, mesmo meio gordas, um pouco feias, que fazem pequenique na praia? Por que isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer aos participantes. O prazer é físico independente do físico que se tenha: namorar, tomar milk shake, sentir o sol na pele,carregar filho no colo, andar descalço , ficar em casa sem fazer nada. Os melhores prazeres são de graça – a conversa do amigo, o cheiro da jasmim, a rua vazia de madrugada- e , a humanidade sempre gostou de conviver com eles. Ter um momento de prazer é compensar muitos momentos de desprazer. Relaxar, descansar, despreocupar-se , desligar-se da competição , da áspera luta pela vida – isso é prazer.

Mas vivemos num mundo onde relaxar e desligar-se se tornou um problema, o prazer gratuito, espontâneo está cada vez mais difícil. O que importa, o que vale é o prazer que se compra e se exibe, o que não deixa de ser um aspecto de competição. Estamos submetidos a uma cultura atroz, que quer nos fazer infelizes, ansiosos, neuróticos. As filhas precisam ser Xuxas, as namoradas precisam ser modelos que desfilam em Paris, os homens não podem assumir sua idade.

Não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta fica um pouco mais gorda, não por que querem que sejamos mais saudáveis , mas porque, se não ficamos angustiados, não faremos mais regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza nem roupas e mais roupas. Precisam de nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia.

É Hipocrisia dizer que entramos numa academia de gisnástica porque estamos preocupados com saúde. Se fosse assim já teríamos arrumado uma solução para que questões mais graves como a poluição que arrebenta nossos pulmões, o barulho das grandes cidades, e a falta de saneamento.

Estamos preocupados em marcar a diferença, em afirmar uma hierarquia social , em ser distintos da massa. O cidadão que passa o dia na frente do espelho, medindo o bíceps e comparando o tórax com o do vizinho do lado é uma pessoa movida por uma nessecidade desesperada- Precisa ser admirado para conseguir gostar de si próprio. A mulher que fez da luta contra os cabelos brancos e as rugas seu maior projeto de vida tornou-se a vítima preferencial de uma massacre perpetrado pela indústria de cosméticos. O segredo da indústria da boa forma os métodos de rejuvenecimento não impedem o envelhecimento, 90% das pessoas que emagrecem voltam a engordar, e assim por diante. O que se vende não é um sonho, mas um fracasso, uma angústia, uma derrota.

Estamos atrás de uma beleza frenética , de um padrão externo fabricado, que não é neutro nem inocente. Ao longo dos séculos , a beleza sempre esteve associada ao ócio.Beleza é luta de classes. Estamos na fase da beleza ostentatória que faz questão de mostrar dinheiro, o tempo livre para passar tardes em academias que mostra, afinal, quem somos nós: bonitos, ricos , dignos de serem admirados.

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